quinta-feira, 9 de maio de 2013

Trem


Como tudo é motivo de inspiração para os poetas da CPI, depois de uma visita ao Museu do Trem, situado em Petrópolis - RJ, no Centro Cultural de Nogueira, ele virou o desafio da vez.


Mas antes dos poemas, um pouco dos momentos  vividos durante a Exposição Poéticas Impressões, de Catarina Maul, na estação que deu margem ao desafio.



































Trem




O meu olhar pega o trem
Nas horas vagas do silêncio,
Segue destino à amplidão
Que não cerca o mundo dos poetas.
O meu olhar viaja,
meu corpo, inerte, não
E nesse ir e vir não existe mapa
O meu idealismo aponta as setas
E não há maquinistas nessa transgressão.
O meu olhar pega o trem
Na bagagem, de refém,
O desejo. Trago o medo,
o impulso, a direção.
A morte é,
dessa viagem,
a única estação!


Catarina Maul
Petrópolis-RJ
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Trem bão!


Ferro e força!
Ferro e força!
Ferro e força!
Ferro e força!

Lá, distante
Marcha certa
Num instante
Sempre alerta!

Deslizando
Sobre trilhos
Vai levando
Andarilhos.

Vem descendo
Vai subindo
Vem vencendo
É bem vindo!

Ferro e força!
Ferro e força!
Ferro e força!
Ferro e força!

Fumegando
Embalado
Apitando
Salteado.

Logo alíí!
Logo alíí!

Leva gente
E minério
É frequente
No hemisfério.

Logo alíí!
Logo alíí!

Vai chegando
Na estação
Disparando
O coração.


Giancarlo Kind Schmid
Petrópolis-RJ

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Plataforma 52


Sou filho do mundo
Sem paradeiro ou paragem
Se quiser me encontrar
Basta vir nesta viagem

Vou aonde o sol surgir,
As estrelas brilharem
E a emoção fluir

Nesta gale,
No entra e sai da estação
Caminho pelos passantes
Sem demonstrar emoção

Sento-me, e fico a vontade,
Observando a multidão
Tento adivinhar o que se passa
Com cada um pela visão

Visualizo rostos tristes
E muitos alegres, também,
Vejo emoções que florescem
Quando se aproxima, o trem.

E toda esta visão
Faz minha mente viajar
Me levando a outro lugar
Sempre onde aja emoção


Cleide Jean
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Aí vem o trem


Aí vem o trem
com passageiro e maquinista
na sua rota certeira
mais um dia de muita conquista.

Na estação ele vai parar
alguém espera um amor
que sem demora vai chegar
ali naquele trem.

A locomotiva vem a frente
com ar de bandeirante
hora vem atrás
mesmo assim com estilo gritante.

O trem é poesia
inspira todo apaixonado,
o trem também é nostalgia
quando não traz o ser amado.

É triste ver o trem
ali no canto parado
uma dor dói no peito
e’eu choro calado.

Hoje espero aquela voz
mansa dita por alguém
não chore espere um pouquinho
que já vem, que já vem, que já vem.


Rodolfo Andrade
Petrópolis-RJ
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No vazio Trem Fantasma... O Maquinista...


Nos trilhos sem sentido, o Maquinista
Sempre sozinho, guia o Trem Fantasma
Sua sina é guiar sempre o Trem Fantasma
Sua sina é ser somente um Maquinista

Não admira mais a vista, o Maquinista
Não fala com ninguém no Trem Fantasma
Ele somente guia o Trem Fantasma
Sempre... Cada vez mais... Mais Maquinista

No mundo, ele é somente só Fantasma
No mundo, ele é somente um Maquinista
Guiando, sem sentido, um Trem Fantasma

No imperdoável mundo... O Maquinista...
Na inglória Eternidade... O Trem Fantasma...
No vazio Trem Fantasma... O Maquinista...


André de Castro
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Ao Teu Encontro


Um dia também precisei partir
Inevitável seguir essa trilha !
Talvez eu desejasse apenas encontar
a menor forma de amar
como o sorriso banguela de menino à beira da estrada
o aceno camponês na colheita árdua da cevada
o aroma das flores na manhã ensolarada
e a imensidão interrompida do prado
pelo passar do trem, tão assolada
Em cada estação vivida
uma forma pequenina de amor
parece desembarcar
Ao avançar pelo mundo
o tempo foi deixando essas vidas e lugares
para trás
E as vozes felizes, os rostos carentes
os sorrisos tristes e as mágoas saudosas
vão passando como flores minúsculas 
na amplidão da mata...
Sonhos que se fizeram em nada.
Ao almejar o horizonte
eu desejo apenas voltar por essa estrada 
Ir recolhendo todas essas mínimas vidas por lá deixadas
e, juntando-as todas, uma a uma 
me restaria apenas te reencontrar na estação
e, ao desembarca,
por fim, te abraçar,
e morrer de tanto e tanto amar.


Carmem Teresa Elias
Rio de Janeiro-RJ
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Trem

Qualquer besteira que não se tem
Termo vago, expressão ausente
Vagão lotado que carrega meu bem

Rumo ao nada se vai e vem 
Coração ferroso de tanto desdém 
Vida que não vale um vintém
Estação chamada Ninguém

Carmem Teresa Elias
Rio de Janeiro-RJ
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E se a fumaça nada dissesse, 
Se os trilhos não me detivessem, 
E a neblina não me encorajasse?
Ainda assim iria de trem, 
Para vencer minha rotina, 
Como quem se atreve além da esquina,
Por que ama essa – Branca - menina,
Muito mais do que ela imagina...

E se o apito ecoasse, como quem lança um alerta,
Como quem a alma desperta e faz minha boca selar?
Ainda assim iria de trem,
Para desvendar meu sonho obtuso, 
Para desenfrear meu silêncio absurdo
E lhe escrever de vez o que sinto.

Porque, olhe pela janela, 
A paisagem prova que não minto.

Sinta o ar que se torna vento,
O calor que se torna vida,
A estrada estreita, feito trilha...

Sim, ainda assim iria de trem,

Porque sei que no fim da estrada, seja de ferro,
De terra ou de nada, 
Quando olhar em seus olhos, 
Após o trem ultrapassar a colina,
Nada mais haverá que nos oprima,
E mesmo o melhor entre os trens
- Mesmo desses que às vezes nos anima - 
Caso não siga a ordem divina,
A liberdade nos arrebatará de fato,
Ou o nosso amor 
Nos descarrila da dor, 
Em um singelo e puro ato.

- Eu te amo minha Branca!
Minha linda Acácia!


Cristiano Argeu
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No trilho do destino 
o trem da vida
tenta de equilibrar
nas curvas 

Olhando e tentando 
se equilibrar 
tenta aproveitar 
a beleza que se encontra 
pelo caminho 

A vida inocente
tenta defluir 
entre escombros 
e caminhos 
estreitos 

Senta-se próxima 
da janela 
para tentar ver 
a beleza surreal 

Qual é o rumo? 
qual é a estação?
qual é o destino?
deste trem?

O trem corre sobre os trilhos
em uma velocidade sem igual 
A vida tem que ficar atenta 
para não perder seu lugar ao sol.


Daniela Valadares Aleixo
Petrópolis-RJ
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Trem


Na minha terra trem é o Macáia...
Tem rodas, anda lento e levanta o pó.
Lágrima que sai pelo rosto, vai empoeirada,
No amargor do sol da tarde, sempre amarra o nó.

Vim parar aqui, e do mar sinto o cheiro...
Ficar perto da morena que fala o tempo inteiro,
Que, às vezes, de mim sente pena: vê meus olhos sonhando,
Querendo voltar pra lá.

Aqui ela vem de trem,
Trem pode ser muitas coisas no coração mineiro.
Central do Brasil - fere o peito, tinindo, deslizando rasgado
Cortando tudo por inteiro e me deixando magoado!

Trem nosso de cada dia,
Tem pena de mim, tenha dó!
Como queria leva-la de Macáia comigo,
Pra nunca ficar tão só!


De Magela/Carmem Teresa Elias
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Piuí: o passarão do trem da vida


Embarcar num trem
Eis uma catacrese
Palavra de outrem
Quase exegese

O trem da vida
Metáfora gasta
O trem de partida
Comparação vasta

Trem, trim, trom
Mude a vogal
Muda o som
Poema quase igual

O trem da poesia
Segue o ritmo da canção
A vida passaria
A vida passarão!


Filipe Medon
Petrópolis-RJ
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Nossa manhã de domingo


Hoje o nosso trem da vida,
aliviando a tensão,
ofereceu-nos guarida
numa tranquila estação.


Gilson Faustino Maia
Petrópolis-RJ
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Trem


esse trem que é a vida
esse trem que é a morte
esse trem que é o Brasil
esse trem que é a rotina
esse trem que é a esperança
teleque.teleque.piuí.piuí.teleque.teleque
qui trem é esse aqui. piuí .teleque teleque
esse trem que é a poesia
esse trem que é a hipocrisia
esse trem que é a maluques

esse trem danado que é o Homem andandofumegando por cima da Terra


Matheus José Mineiro
Petrópolis-RJ
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Mala cheia de cacos


O famoso trem
Da vida vem trazendo 
Histórias e lembranças lá do mar

Eu andei muito de trem
E fiquei a imaginar
Belezas pra contar 

Foi aí que lembrei de você...
Do quanto queria tanto achar !!
Vou ter de revirar os comentários 
Quem sabe no fundo da mala? 
Quem sabe o maquinista não vai também amá-la?

Acaso, quando existe, 
Vira destino... 
Ainda mais ...
Quando o trem é poesia ! 

Inspira todo apaixonado,
E Segue em nostalgia 
Quando não traz o ser amado”.
Tem de tudo nesta mala !
Mas na estação, falta você ...
Sonho que se sonha só é utopia 
Mas sonho que se sonha junto a realidade alinha


Rodolfo Andrade, Gilson Faustino Maia, Roma Magela e Carmem Teresa Elias
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Trem


Trem bom
Trem a prazo e, à vista
Trem lotado 
Trem surfista

Trem dengoso e noturno
Trem safado – que não durmo
Trem arastado
Trem “net” obscuro

Trem azul
Trem da morte
Trem da alegria
Trem do mato

Trem danado
Não trouxe você pro meu lado
Chegou lotado e atrasado
Que o coração se zangou.


Roma Magela
São Paulo-SP

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É nossa


A expressão de “trem” é nossa!
Gilson Maia, Carmem, Luciana Cunha, confrades...
Quem é que sabe?!
Tem muitos significados lá na roça.

Fica divertido com a palavra brincar;
Que o trem pode ser uma pessoa bonita
Cheia de formosura e
Até candura!

Trem, também pode ser o Caramunhão:
Trem pra lá de ruim, que fica assombrando por ai.
E, quase me esqueci:
Tem o trem do Saci!

Tinha uma namorada...
Que pegava o bom trem de Jandira, ia pra Osasco todo dia.
Eu queria seu abraço apertado,ela queria o trem lotado...
Quando ela ia, o som do ferro no ferro me doía. Como doía!


Roma Magela
São Paulo-SP
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Trem de Emoção


No balanço desse trem
pessoas vão e vem.
Fico parada na estação,
esperando para segurar na sua mão.
Anseio pela sua chegada,
na mente devaneios de paixão.
Penso o que vai trazer na mala
para minha satisfação.
Vai chegar agora?
Mas que demora,
fico olhando a multidão.
O balanço dessa hora,
acelera meu coração.
O tormento só acaba
quando contemplo sua aparição,
fico estática perco a fala
diante desse trem de emoção.


Veronica de Mello
Petrópolis-RJ
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Neves outonais
-Um encontro impossível-


A paisagem é branca e úmida,
pois há flocos de neve lá fora.
Raras flores e folhas secas caídas enfeitam o inverno
que, aos poucos, se anuncia.
Estou agasalhada e o calor do vagão me aquece
nesta viagem em busca de mim mesma.
Penetro num mundo até então desconhecido.
Onde está o mistério: lá fora ou aqui dentro comigo?
Que barulho é este que me tira do abandono
de estar somente com meus sentimentos?
Curva após curva, sinto o vento gélido, que vem da porta aberta.
Surpresa, vejo você sentado à minha frente.
Tento falar, mas somos estrangeiros com idiomas diferentes.
Nossos olhares então se comunicam,
nos observamos curiosos, levados pelo desejo do encontro.
Você me serve um drink colocado em nossa mesa.
Sorrimos e brindamos em silêncio.
E, extasiada por essa imagem delirante
volto a adormecer, sozinha,acariciada pelo balanço
serpenteante da Transiberiana.

Maria do Carmo Bonfim
Rio de Janeiro-RJ

Um comentário:

Gilson Faustino Maia disse...

Uma viagem inesquecível! Obrigado, amigos, pela companhia. Na minha mochila tem pipoca doce, balas e amendoim torradinho, quem quiser é só se aproximar. Boa viagem para todos nós!