domingo, 7 de abril de 2013

Índio também é cidadão brasileiro


No último fim de semana o Rio foi cenário de mais uma brutal, violenta, injusta, discriminatória e desrespeitosa cena de ataque à comunidade indígena. Parece que nada mudou em nossos 500 anos de História. Impõe-se a vontade de uns sobre minorias com força e covardia. As cenas estão na mídia. Compartilho uma das muitas manifestações que estão ocorrendo pela rede e sugiro que nós, poetas, possamos exercer nossa função social na defesa de tratamento digno a essa etnia que, por direito de Natureza é o verdadeiro dono dessa terra chamada Brasil. Que com nossos textos, por mais singelos que sejam, possamos contribuir para uma conscientização crítica da população, o que tanto falta em nossa sociedade... 


Carmem Teresa Elias


Desafio: O índio também é cidadão brasileiro!

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Silêncio sem cor 

O cheiro da terra
Impresso na tez .
A marca da guerra
Que nunca se encerra
O sangue no barro
A barra tamanha
O canto de dor...

Emudece
Não há pajelança
Nem prece
Só há violência e o fuzil.

Assim, as autoridades
Com suas arbitrariedades
Dizimam o Brasil. 

Catarina Maul
Petrópolis/RJ
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Falando de índio

Sou um indiozinho que passeia tranquilo pela beira da praia, meu quintal. 
Inteligente, sei que de tudo disponho para ser feliz.
Mas sinto que, à espreita, me observavam de longe.
Um dia, no entanto, aconteceu... Conheci alguns homens diferentes cobertos de panos. 
Com curiosidade normal de toda criança fui me aproximando timidamente e me encantando com as novidades.
Mal sabia que aí começaria minha escravidão... E no meio da rejeição conheci uma arma diferente. Arma de homem covarde pois no corpo a corpo não guerreava. 
De longe causava seu estrago que, da tocaia, o covarde homem atirava. 
Não adiantava gritar : - Nós não precisamos de nada já temos tudo e queremos nossa paz!
Outra língua eles falavam...
Foi-me imposta religião, costumes e tradições.
Foi dizimado o meu viver... 
Via pouco a pouco meu povo morrer, e me perguntava: - O que será de nós agora?
O silêncio ...
E lá ao longe na mata uma ave solidária, com seu canto me respondia.
E a dor que mais me doía se fazia ser ouvida...

Ana Lucia Souza Cruz
Campos dos Goytacazes/RJ
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TUPÃ

Tupã
Wayaná
Kaimbé
Guajá
Caiapó
Ajurú
Tupi
Pataxó
Javaé
Marubo

Deus!

Naus
Cabral
Portugueses
Catequese
Anchieta
Corte Real
Capitania
Extrativismo!!!!!

Independência????

Marriot
Windsor
Uncle Sam
Empire
Globalization
Abroad
Delete!
Oh, my GOD!!!!!!!!

Carmem Teresa Elias
Rio de Janeiro/RJ
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Pássaro que não é pássaro

O canto era longo, melodioso
Na harmonia da floresta
O colorido ornamento de penas e plumas 
Continha amarelos, verdes, azuis...

Com eles, havia as cores de Brasil
Havia a música das florestas do Brasil

Mas seu canto ficou raro
Tão raro 
Quanto o canto do Uirapuru...

Pássaro que não é pássaro

A floresta silencia
Os índios estão quase extintos!
O Brasil não aprendeu a viver com tamanho encanto!!!

Carmem Teresa Elias e Beatriz Ribeiro
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Nossos Direitos...

Não sou bicho
Eu sou gente
Muitos de vocês
De mim vem

Da terra eu sou nativo
O que sei
Não aprendi com ninguém

Minha gente tem história
Muito tem para ensinar
E me vem o homem branco
Querendo tomar meu lugar

Vocês não sabiam nada
Nem plantar e nem arar
A caça, nós ensinamos,
E também ensinamos pescar

Agora, são maioria,
E nos acham obsoletos
Como se a cultura do povo
Fosse só de monumentos

Nos deem espaço, na terra,
Temos direito ao lugar
E verão que à vocês
Ainda temos o que ensinar
Pois somente o que queremos
É um lugar para habitar

Cleide Jean
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Donos da terra 

Usurparam sua cultura 
costumes e tradições .
Apossaram-se de suas 
terras , seu verde devastou .
O índio andava nu , uma livre 
inocência , foi injetado em suas
mentes inverdades sobre moralidade 
cegaram a sua pureza ...
513 anos depois , O índio 
ainda tem que guerrear , por uma 
terra que sempre foi sua ,
provar que este é seu lugar .
A força do índio vem de um querer , 
provar que esta terra vasta não é 
" terra de ninguém " . 
Esta terra sempre teve donos , 
tinha e ainda tem ... ÍNDIOS .


Daniela Valadares Aleixo
Petrópolis/RJ

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A TERRA É DE TODOS

Alguns me chamam de selvagem
"Ser civilizado", seja franco
não é ter em minha bagagem
a cultura do homem branco

Silvículas, uma outra designação
Como se a selva fosse nosso lugar
Somos pessoas, com alma e coração
com direito de "ir e vir", sem lutar. 

Sou indígena com muito orgulho
Aqui meus ancestrais reinaram
E agora fazem todo este barulho
Acreditando que nos domaram

Homem branco quer respeito?
Homem branco seja perspicaz.
Índio não quer preconceito.
Índio quer viver em paz!

Elciana Goedert
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CIVILIZAÇÃO

Declararam-me guerra.
Levaram-me as flechas.
Tiraram-me a terra.
Cortaram-me as mãos.
Ataram-me as pernas...

E aos restos da tribo
chamou o inimigo
de Arte Moderna.


Edweine Loureiro
Japão

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Um Kayapó - João Não Sei De Que

Índio quer apito
Se não der pau vai comer
Eu, cacique, repito:
Homem branco vai ver

Uga, uga, urra, urra
Homem branco, coitado
Tem mente burra
Eu, índio, sou “ecologizado”

Índio tem Sony Vaio
E Câmera Nikon
Na Rio + 20 eu saio
De iPhone, tá bom?

Cobro para tirar fotos na Rio + 20
Sou uma peça de museu a céu aberto
Me visto com todo requinte
Quando a mídia está por perto

Sou cacique, quero oca
Sou pagé, quero cobertura
Não admito fofoca
Índio quer casa segura

Meu arco e flecha sumiu
Minha lança está guardada
Minha raiz sucumbiu
Não me resta mais nada

Só falo com microfone
Hoje eu sou pop
Sou um índio insone
Na Globo eu quero IBOPE

Sou o dono dessa terra
Sou o dono dessa floresta
Depois de tanta guerra
O que ainda me resta?

Era o dono dessa lama
Era o dono dessa caos
Hoje perdi a fama
Para esses homens maus

Do Rio eu fui excurraçado
Perdi até meu Museu
Logo ali do lado
Tem verba desviada... Dinheiro seu!

Exijo respeito para as tradições
Quero profetizar meu culto
Não existem religiões
Nem segredo oculto

Sou filho de Tupã e Ogum
Minha mãe é Maria
Rezo no Olodum
Quem diria?

Ainda sou índio? Não sei
Tenho cultura? Onde está?
Cansei
O que há?

Não tenho direitos
Apenas deveres
Para todos os efeitos
Sou chefe da tribo sem poderes

Tudo começou com a nau
Que ancorou na minha praia
Maldito seja o nome Cabral!
Sempre se metendo com a minha raia

Perdi a minha identidade
Sou apenas um cine privê
Quer saber da verdade?
Sou apenas um Kayapó-João Não Sei De Que.


Filipe Medon
Petrópolis/RJ

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A história continua...

E chegou lá na praia gente estranha
com armas, objetos, com perfumes.
Desrespeitaram, então, todos costumes
do povo que ,assustado, se emaranha
nas matas ao rigor dessa façanha.
E o estrangeiro os engana, diz ter fé...
Um ritual que até mesmo o Pajé
nunca havia pensado que existia.
Dos de fora, também, a maioria
não dobrava o joelho, estava em pé.

A ambição desenhada em cada olhar...
Era, assim, começada a nova vida,
o adeus à liberdade conhecida.
Não vieram na paz, mas explorar
as riquezas que havia no lugar.
Dali pra frente, estupros, saques, mortes.
Era o nativo entregue à própria sorte,
o terreno sagrado, violado,
pelos covardes fortemente armados.
Humilhação dos fracos pelos fortes.

Agora é a vez de nova caravana
aos festejos do Rio de Janeiro,
pagando hotéis, trazendo um bom dinheiro;
uma turma de lordes, de bacanas.
O índio ainda é Zé Mané, banana.
É preciso varrer, fazer bonito...
O índio enfeia todo aquele agito.
A cena se repete, com porrete,
vai o pobre pra baixo do tapete.
Ninguém soube evitar esse conflito.


Gilson Faustino Maia
Petrópolis/RJ

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ESSE POVO MORENO QUE FALA GUARANI...

Muito prazer, eu sou o Brasil, tenho a pele morena que é uma das muitas heranças dos meus antepassados que se miscigenaram a outras raças que por aqui chegaram depois, e muitas vezes me esqueço que essa terra tem seu nome em homenagem a uma planta somente conhecida pelos os índios, mas despertou a cobiça dos europeus, o Pau-Brasil (um corante vermelho muito usado naquela época), inclusive é o único pais do mundo com o nome de uma planta. Sou aquele que muitas vezes é chamado de inculto, por não falar o corretamente francês ou o inglês, mas que no meu dia a dia, falo palavras com raízes tupis com a eloquência dos mais sábios eruditos. Aqui no Rio de Janeiro eu sou chamado de Carioca, um nome que indica a minha origem mestiça (Cari = Branco + Oca = Casa, nome feito com duas palavras em bom e sonoro Tupi Guarani). Carrego em cidades e bairros a prova dessa mistura, e tenho em meus domínios diversos exemplos disso, seja em Acari (Sagüi de cara branca), Itaguaí (pedra do rio pequeno) Muriqui (macaco de cara preta), Itaocara (cidade de pedra), Mangaratiba (pássaro de asa amarela), Piraí (peixe pequeno) Japeri, Paracambi, Guapimirim e Macaé alem de estados como Maranhão, Pará, Paraná, Piauí e Tocantins. Gosto das praias de Itaipu, Ipanema, Paquetá, Piratininga, Ibitinga, Itacolumi, Iguaba ou Maricá, todas tão belas, e com nomes indígenas (a praia do Peró, em Cabo Frio deve seu nome aos índios que chamavam assim aos portugueses). Tais nomes deveriam marcar a memória do branco colonizador, que chamavam os verdadeiros donos dessa terra de indolentes, enquanto comiam Mandioca, Inhame, Cará, e Banana, tomando um suco de Caju ou de Mangaba deitados em uma rede a sombra de um belo pé de Cajá enquanto que ao longe um sapo Cururu coaxava a procura de Maruins e Muriçocas. Gosto do canto do Curió, do Sabiá, do Godero, Uirapuru e do Tiziu, do grito da Arara, da fala do Papagaio, sou aquele quem admira a Maritaca e o Maracanã em seu vôo sobre a mata, aonde o Maracajá (gato do mato) a Capivara e o Quati tinha sua morada em outros tempos... Por aqui eu pesco a Piaba, Piavuçu, Pirambóia, Piraju e Pirajica, ainda vejo às vezes nessas águas poluídas pelo branco invasor que veio e continuam vindos de outros continentes, os Carapicus e as Carapebas, as Cocorocas e as Pilombetas (Lá no pantanal tem Tambaqui, Pacu, Pirapitinga, Piraputanga, Piau e outros tantos). Meu nome pode ser Jaci (Lua), ou Ubiraci (força da Lua), mas poderia ser Iara, Ubiratã, Ubirajara, Iraci, Urubatã, Ceci ou Peri, ou outros tantos desse língua pátria e esquecida.. Veja que Guarani, Tupi, Tamoios, Goitacás, Araguaína, Bangu, Murici, Potiguar, Mossoró ou Baraúnas antes de serem nomes de clubes, eram nações indígenas, cada uma com sua estrutura e organização próprias, com características ecológicas, muito antes de o civilizado homem branco pensar na preservação da natureza, pois sabiam que desmatar e destruir não são sinais de progresso. Foram essas mesmas nações indígenas usadas pelos portugueses de antigamente, como por exemplo, através do Chefe dos Tupiniquins, Araribóia (Cobra Colorida em sua tradução literal) a expulsar os franceses que se aliaram aos Tupinambás, no século 15, ganhando o direito a habitar pacificamente as terras de Yperói (antigo nome indígena de Niterói), do outro lado da baia de Guanabara (outro nome indígena). Mas hoje o nosso povo de pele morena, prefere um Hot-Dog ou um Cheese Burguer, tentando se americanizar, mas em casa come o Angu, Sagu e Fubá, usa a farinha de Mandioca, a pimenta Malagueta, e o Colorau (Urucum) sem sequer lembrar-se de suas origens Cafuzas (mistura de branco com índio), ou Caboclas (negros miscigenados aos índios). Veja a influencia tamanha desse povo tão mal compreendido, que habitava desde o Atlântico até os Andes e contribuiu com muito mais do que o milho verde que faz a Pamonha e o Curau ou dos temperos nativos tão apreciados na gastronomia (quem nunca provou um mel de Jataí ou de Uruçu não sabe o que está perdendo). Portanto amigo leitor, morador dessa nação muitas vezes chamada de pátria Tupiniquim (uma discreta homenagem aos povos locais), ao falar quais são os seus idiomas, inclua o Tupi-Guarani, e quem sabe assim você poderá ser chamado de Chirú (Chê = meu, Irú = Amigo) sem se ofender...

Luizão Bernardo
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Tupi, quem é o inimigo?
-Tapuias são nossos aliados,
Não come gente
Quem come a gente é o capital
Quem come a gente é o consumismo
Quem me fode é o homem branco.

Amarrou meus braços e pernas
Confiscou arcos e flechas
Destruiu minha casa
E poluiu meu lago.

Me fodeu de frente
Pra ver as lágrimas em meu rosto,
Matou meu deus
Acreditando ter topado com o paraíso.

Pisou em meu peito nu
Com força e voracidade,
Em bonecos de cera de um museu
Reduziu minha sociedade.

Leila Maria
Cruz da Almas/Ba
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“Brancas mãos”

E o índio seguirá 
Para sempre sua história...
E marcará em nós (mesmo que incompreendida) 
Sua memória.

Seus cantos e costumes,
Seus prantos...
Batizaram Pindorama
Terra das palmeiras 
E de infinitos encantos...

Em cada rio, cada mata
Em cada ponto distante...
Sua presença marcante (inda que ausente)
Porém, altiva e imposta 
Pelo espírito de liberdade.

E o índio seguirá...
Incompreendido, puro, inocente...
E em nossas “brancas mãos”
Um rubro sangue a nos manchar
Eternamente.

Paulo Roberto Cunha
Petrópolis/RJ
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ALDEIA MARACANà

Desde a época 
Que o Brasil foi
Descoberto por
Álvares Cabral
Começou o tormento
Do povo Indígena 
Que foi expulso
Da sua Própria 
Terra. 
Até que chegou no 
Século XX e surgiu 
Um homem branco 
Com uma alma boa 
Chamado Darcy 
Ribeiro 
Que inventou um 
Tipo de um museu 
Chamado aldeia 
Maracanã 
Que mudou a vida 
Dos nossos irmãos 
Índios para ajudar 
E defender como se 
Fosse um sindicato.


ALAN BASTOS LIMA
Petrópolis/RJ
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Salve Aldeia maracanã...

Brasil nasceu em berço índigena,
o mérito foi seu!
Cresceu forte virou Patria
pelos frutos que colheu.
Indio irmão de sangue e terra,
que crime cometeu?
Pra não ter direito a nada,
lutando pelo que perdeu.
Hoje essa Pátria ingrata,
venda os olhos diante da estigma
desse povo que te acolheu.
Irmão registro aqui agora,
Para aqueles que te ignora
que teu sonho não morreu.

Verônica de Mello
Petrópolis/RJ
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O futuro do índio

Mas e agora, Brasil, o eleitorado
quer saber o que vai acontecer.
A pergunta não cala, e o que dizer?
O nosso índio será recompensado
por já ter sido tão prejudicado?
No passado ele andava livremente...
Preservando e mantendo sua gente,
só caçava o que iria consumir.
Morto, agora, não tem onde cair!
Não seja o caos um fato permanente.

Gilson Faustino Maia
Petrópolis/RJ
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Romeu e Julieta tupiniquim

A história que vem de longe
e aqui procurou seu abrigo
Kaiapó e Kalapalo inimigos
tem como busca serem amigos.

Capitão ele é de futebol
guerreiro forte e muito audaz
ela é líder busca no pai
a benção para a doce paz.

O líder da maracanã
em seu posto foi mediador
tentando unir todo o seu clã.

Para não haver a guerra
não existe espaço melhor,
que por ironia do futebol...vai por terra?

Rodolfo Andrade
Petrópolis/RJ
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2 comentários:

Loira Paulista disse...

Amigo Gilson Maia....A pergunta realmente não se cala....e o futuro dos verdadeiros donos dessa terra? Trabalho explendoroso, meus parabéns a todos...página que vale a pena visitar. Beijos.

Fanzine Episódio Cultural disse...

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