quinta-feira, 5 de abril de 2012

SOBRE BARCOS



Engraçado! Sempre adorei viagens, sejam as mais curtas, que nos fazem cruzar estradas em uma hora, sejam as mais longas, que necessitam da descoberta máxima de Dumont.
De carro, de ônibus, de avião, o meu prazer é indescritível.
Arrumar as malas, preparar os mapas, o roteiro turístico, separar a câmera fotográfica e...  lá vou eu, rumo a um "sempre novo", mesmo que já o tenha visitado uma dezena de vezes.
Mas algo que nunca me atraiu foi fazer um Cruzeiro. Creio-me inquieta demais para pensar que somente terei, naqueles dias, um espaço físico possível, já que ao entorno do barco, tudo é mar. E, mesmo amando o mar, ainda não tive coragem de fazer tentar que minha opinião mude a respeito.
Bem... isso tudo não me retira o fascinio pelos barcos, todos, pequenos ou grandes, equilibrados sobre as águas.  Vejo os barcos livres, lindos, sonhando no mar.

Por conta disso, propus que nossa Confraria da Poesia Informal escrevesse sobre eles... Percebi que todo mundo tem um sentimento de barco em si.

Vamos navegar?

Catarina Maul



Sobre barcos
...
Cada barco que parte é um sonho à deriva,
uma busca incessante, é roteiro no mar.
Esperança faminta, incandescente, viva...
Sem promessas de encontro ou de seu retornar.

Cada barco que singra, que ganha o oceano,
tem em Deus seu destino, é vácuo, é vão.
É luz de estrela, sem rumo, sem plano,
é nau que transporta a cor da emoção.

Cada barco, um segredo, um mistério, procura,
A própria loucura que a mente lapida.
Tracejar seu destino, sua volta, é tortura,
é do mar, é do vento, seu caminho é da vida.

Cada barco... o homem que guia seu barco,
o sentimento em seu coração,
cada dor, cada anseio, o querer, tudo é marco
que segue a corrente e não tem direção!
Catarina Maul


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Alto Mar

Percebo-te adiante
Cintilando sinais
- Indecifráveis -
...
Sem te saber farol
Em porto seguro

Ou encantadora sereia
Em recife de corais

Ajusto as velas
E rumo a ti.

André Vianna

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Barco
navega
leva
tristeza.

... Sonhos,
beleza
fiquem aqui.

Espero
além
seguir
sorrindo,
caminhando,
vivendo...

Um
dia
por
vez

Rodolfo Andrade

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Barco desafio...

Olhos azuis,
A fitar o que é belo...
Embarcação que chega
... Altiva, intensa...
Cheia de sonhos
De de pesca
De vida...
Olhos azuis,
Horizonte cinza...
Barco que
sai.

Paulo Roberto Cunha
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AVENTURAS DE ALÉM-MAR

Com duas folhas de papel,
pus meu barco num riacho
e ainda fiz um chapéu...

 
Edweine Loureiro

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 Ressaca *

Maremotos e Tsunamis...
Sucumbiram-se os polos com ondas gigantes!
Foram muitos Titanics que naufragaram,
... Nem mesmo os tubarões se salvaram..
E naquela pequena aldeia,
Distante da fúria desse mar avassalador,
Ouviam-se o choro das sereias,
E do povo a ecoar com pavor...
Apenas o barco vazio na beira da praia...
"-Onde está nosso querido pescador?"
"-Calma... Essa noite fiquei em casa,
Curtindo a ressaca com meu amor..."

Felipe Quirino

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 Barco

Calmaria
... Embarco
Mar adentro
Pescador de poesia.

Barco deslizando
Eu, poeta
...Versos...
Pescando.

Me esperas na areia
Brilho no olhar
Que anseia
Pelos poemas que te trouxe do mar.

 Alex Avena


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Saga II

Meu mundo pequeno
... de ínfimos ritos
O vento na fronte
O turvo horizonte
Abafo meus gritos
Me finjo sereno
E o barco meneia
na vaga bravia
Furor de sereia
Aquática orgia

A face encharcada
de água salgada
(seria de pranto?)
não lava o espanto
Netuno que dança
no sal da vingança
A faca no vento
Tormenta ou tormento?

Do caos à deriva
ao cais que se aviva
se estende a agonia
Pedir calmaria
ao deus não aplaca
O vento na faca
o sangue evapora
O sangue da aurora
O céu mais vermelho
O mar é o espelho
do deus que se aparta
Atenas, Esparta
no embate aqui dentro
O espelho no centro
da híbrida arena

Um quase argonauta
A pena que falta?
Dureza do solo
Dionísio e Apolo
disputam-me a alma
Já tem calmaria
mas foi-se-me a calma

A terra me afaga
mas vive a lembrança
de deuses e danças
na ínfima saga


Jorge Ricardo Dias

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Rastro de luz

Eu que não sou marinheiro
... Não me arrisco em alto mar
Me joguei de corpo inteiro
mesmo sem saber nadar

Embarquei p'ruma viagem
sem saber onde ia dar
O medo virou coragem
de seguir e de chegar

Subi ao ponto mais alto
do mastro da embarcação
O meu desejo era um rastro
de luz na escuridão

Mesmo estando o mar revolto
prossegui a navegar
Coração pulando solto
Me encontrando em te encontrar

Vi por trás do nevoeiro
que existia um lindo cais
E esperando o meu veleiro
lá estava a minha paz


Jorge Ricardo Dias



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