Um dia, na Confraria da Poesia Informal, os poetas lembraram de sua essência, de onde vieram suas inspirações e referências para a escolha do caminho da poesia.
Isso ocorreu quando o confrade Paulo Roberto Cunha publicou seu poema "Ipê Amarelo", citando vários poetas.
Renato de Mattos Motta, após a publicação, lembrou que tinha dois poemas guardados que homenageavam os mestres, aqueles a quem atribui total respeito e devota imensa admiração.
E foi assim que Renato extendeu o convite à Confraria, que passou a dedicar-se a escrever sobre Bilac, Cecília, Vinicius, Dos Anjos e tantos outros que, de tão intimos em convivência, passaram a ser amigos, companheiros, confidentes de nossos poetas.
Ipê Amarelo
Procurem dentre tantos e tantos, alguns versos...
Que sejam deles: Augusto dos Anjos, Drumond, Pablo Neruda
Posto que, visto poesia e somente dela o prazer a mim desnuda.
Se querem saber por onde param os meus olhos,
Frente esta cruel realidade refletida? Roda-viva consumição de todos nós!
Meus olhos param nestas árvores esquecidas,
Aprisionadas entre os concretos e os asfaltos...
Inundam-me os olhos prisioneiras árvores,
não obstante, agarram-se aqui...
Na agonia de sugar a cada instante, tão escasso subsolo.
E se após minha partida, sentirem por mim saudades
Procurem-me nas matas reluzentes
Ou nos versos de poetas tão ausêntes...
Pois, serei para sempre o Ipê mais Amarelo,
Por entre todo aquele verde relicário, contudo,
Deixo como legado, enraizado na fartura deste chão,
O meu repúdio a esses desumanos homens, que se corrompem
E nos matam sem razão.
Paulo Roberto Cunha
Petrópolis - RJ
Petrópolis - RJ
Voz da memória
poeta não te esqueças
dos pais do teu poema
de poe o estorvo do corvo
e de bertold coragem
poeta não esqueças
dos anjos tortos já mortos
dos pablos carlos manuéis
fernandos e joãos
da herança que te deixaram
desde além-castro
desde muito além-camões
aqueles pra quem a palavra
mais que poética é ética
cuja arte imita nada
porque é vida a ser vivenciada
poeta que se preza
usa sua voz com alarde
não é poeta o covarde
que abafa o grito
com migalha pega do chão
que jamais cale o poeta
a não ser quando o silêncio
falar mais que a poesia
Renato de Mattos Motta
Porto Alegre - RS
POEMA-JOGO
ache os poetas escondidos entre textos (15)
texto
terreno,
pá lavra,
ave avoa,
eva vive,
má ou sã...
nos frutos
do mundo,
raimundo
drummond
ange tortu
du monde.
augustos
ara haroldo,
plantando
pés de sonho,
limas de são jorge
pomar de melo.
quem não atinge
uns tantos
pounds.
en mi mano, é mel
e meu ferreiro
é gullar
sujando poemas
de terra
e diarréia.
de muitas morais
vi inícios
e caolhos
navegantes lusitanos;
vi caetanos
cantando poemas.
que os anjos
augustos
fertilizem
essa terra
de severa sina
de morte e vida
onde brote
renovada
poesia.
Porto Alegre - RS
Constelação
Constelação
Inundando
Mentes e papéis
Arrebatando
Pela poesia
A alma, o coração
Do Drummond
a leveza
Gullar vive...
... do certo à incerteza
Ah, o Poetinha
quanta beleza
Cada qual espelho de si
A refletir inspiração
Queimam em seus poemas
Torrentes de águas tranquilas
Que devastam sentimentos
Nesses versos eternizados
Alex Avena
Petrópolis - RJ
Inundando
Mentes e papéis
Arrebatando
Pela poesia
A alma, o coração
Do Drummond
a leveza
Gullar vive...
... do certo à incerteza
Ah, o Poetinha
quanta beleza
Cada qual espelho de si
A refletir inspiração
Queimam em seus poemas
Torrentes de águas tranquilas
Que devastam sentimentos
Nesses versos eternizados
Alex Avena
Petrópolis - RJ
Samba-enredado
meu pensar se fez profundo
Virei cidadão do mundo
Neve, sol, vento, garoa
Desde que li Manoel
cada chão, todos os Barros
virou telúrico céu
e as simples belezas narro
O tal de Augusto dos Anjos
me transformou num marmanjo
com rebuscadas agruras
Ourives de iluminuras
O senhor Mário Quintana
me resgatou a criança
Fez meu viver ter mais gana
com a poesia que dança
Drummond, Bandeira e Cabral
Gênios, meu manancial
onde a alma se sacia
do elixir da poesia
Jorge Ricardo Dias
Rio de Janeiro - RJ
Energias quânticas do universo
Um dia pra vadiar largar-se a fundo
um sopro, a menor vogal pode me desamparar
pois é tão bom morrer de amor e continuar vivendo
que uma parte de mim é só vertigem: outra parte, linguagem
Sentimentos perfeitos migrados e ordenados
marcados no fundo querendo a vida
de grandes mestres em busca afrodisíaca
bem dentro do ser na parte perdida.
Ser feliz sem motivo é a mais autêntica forma de felicidade
todo o ser humano é um estranho ímpar
busca o que lhe convém, ninguém é igual a ninguém.
A Arte existe, porque a vida não basta,
a alma é essa coisa que nos pergunta se a alma existe
é preciso transformar o ‘assim se deu’ no ‘assim eu o quis.
Rodolfo Andrade
Petrópolis - RJPerdido no (uni)verso
Adentrei num universo
À procura da poesia
Encontrei o amigo verso
Que me guiou noite e dia
Encontrei Quintana e Camões
Quental e Fernando Pessoa
Me perdi em versos e canções
Ah, mas que noite tão boa!
Encontrei o Boca do Inferno
Mas ele era pecador demais
Compôs comigo um soneto terno
E me disse: “Até nunca mais”
Encontrei Augusto dos Anjos
Que vomitava a sua poesia
Em meio a cítaras e banjos
Escarrava e tossia com alegria
Encontrei Drummond de Andrade
E conversamos com o leiteiro
Estava mais vivo que na realidade
Era gauche, itabirano, companheiro
Encontrei Cecília... Que adorável!
Se era isto ou aquilo, não descobri
Era sincera, amiga e afável
Triste? Alegre? Poeta, sorri!
Encontrei os inconfidentes
Que me confessaram um segredo:
Não morrera o Tiradentes
Casara-se com Marília muito cedo!
Encontrei o amigo Bandeira
Que me levou numa viagem
Conhecemos a Pasárgada verdadeira
Mas que bela imagem!
Encontrei um tal de Fernando Pessoa
Ricardo? Álvaro? Alberto Caeiro?
O Menino de uma mãe tão boa
Não sabia seu nome verdadeiro!
Encontrei um gênio dito Joaquim
Estava com sua amada Carolina
E com os filhos Bento e Capitu, enfim
vivia com sua menina!
Encontrei o Poeta dos Escravos
Que falou de amor como poucos
Falamos de rosas e cravos
Tiramos as algemas dos loucos
Encontrei um certo Quintana
Conversamos sobre o Anjo Malaquias
E quando o bilhete voava pela ventana
Vimos passar Gonçalves Dias
Encontrei um tal Poetinha
Que merece mais de um quarteto
Amigo... Mestre... Capetinha...
Me ensinou a fazer soneto
Me ensinou a compreender o amor
Pois vivera um Amor Demais
Me mostrou o segredo da morena flor
Seu nome era Vinícius de Moraes
Foi quando acordei desse mundo
E trouxe comigo as recordações
Guardarei comigo um sonho profundo
De poesia, versos e muitas emoções!
Filipe Medon
Petrópolis - RJJosé...
E agora, José???
As estrelas já não me contam mais.
Já não caibo em meus versos.
Minha vida, sem fé.
Os meus desejos, mortais.
Os meus sonhos, complexos...
José, e agora???
Minha face de vidro.
Meu caminho, sem coração.
Minha dor não tem hora.
Tudo perdeu o seu brilho,
e eu já perdi a emoção.
E agora, José?
Onde se recolheu minha fé?
Onde encontrar a luz?
Como carregar minha cruz?
Meu destino, que é???
Vou embora, José!
Luana Lagreca
Petrópolis - RJ
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