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Ah, Noel!
Se eu voltasse a ser criança
talvez fosse receber,
ou novamente esperança
poderia ainda ter,
o que eu guardo na lembrança
que não pude merecer.
Poria o meu sapatinho
naquela humilde janela
onde sempre eu, quietinho,
olhava a lua, tão bela!
O chão, um mundo de espinhos!
O céu, adorável tela!
Gilson Faustino Maia – Petrópolis / RJ
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O QUE RESTOU DE PURO NO MUNDO
Diariamente ele saía
Surgia como inspiração
Ou ilusão:
Vestido de cores vibrantes
Vestido do vermelho e do branco.
Importava-lhe, sim, as cores
De uma, a vibração, a energia, a vida e a veemência
Porém, era do branco que lhe revestia as mãos que ele mais se dignificava...
A brancura absoluta das luvas, a brancura absoluta de espaços
Cobrindo a palidez insuflada sob a pele.
O branco, pensava, não se pode sujar,
E a palidez, bem, as luvas escondem...
Aqueles dias eram feitos de Tempo:
Havia gritos eufóricos, sorrisos, alegrias, gestos de crianças...
“ Mãe, lá está o papai Noel!”
E ele , logo, perguntava:
“O que você deseja , meu filho?”
“ Um i-pod”
Ele ria : modernidade indecifrável, pensava.
E olhava nos olhos das mães
Palidamente,
Indagando se poderia confirmar aos pequeninos
O recebimento do ‘ carinho’...
Papai Noel tem momentos assim
Em que não sabe o que responder a uma criança...
Mas suas mãos são tão puras, tão brancas,
Capazes de conceder espaço a tanta ternura
Que manchas de sujeira nos dedos das luvas
Justificam horas a esfregar, lavar, ensaboar, escovar...
Garantiu-se ao velhinho um mês integral de trabalho digno
Uma bênção humana a um velho desempregado
Uma bênção crística de voltar a estar e ser entre crianças
Mas na noite de Natal
O shopping não abre
Papai Noel pode voltar para casa de vez:
Desemprego,
Velhice,
Solidão
Abandono de cadeiras vazias e ceia, enfim farta, pelo fruto trabalhado.
A palidez de tudo que finda treme pelas mãos
Suja-lhe de ausência a veemência da vida.
Última noite
Resta a lembrança de seus olhos indagando às mães
O recebimento de carinho:
O menino recém nascido, ainda na brancura do céu,
Também deve ter momentos assim
Em que olha olhos pálidos e idosos
E não sabe o que responder a Papai Noel...
(Ao pisarmos neste mundo, só encontramos pureza. Nós mesmos somos fruto dessa absoluta pureza. E só estaremos vivos, se o sorriso de uma criança nos embarcar em eterna viagem.)
Carmem Teresa Elias - Rio de Janeiro/RJ
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Viagem de Natal
Nos sonhos da poesia viajei
noite e dia sem fim
quando resolvi eu parei
é Natal, é dia do Rei.
Seu sorriso de menina criança
se fez diante de mim
como luz que brilha forte
como luz que arde sem fim.
Estou vivendo a vida
querendo sempre querer
quero uma vida melhor
sem ferir e sempre viver.
Seus olhos marcantes
a vida sem medo refletem
uma grande vontade,
um enorme desejo prometem.
Porém a vida continua
com mais força se diz...
Só espero que não tenha fim
a vontade de ser feliz.
Me fez ver a vida
sua paz sem igual
uma alegria me invade,
fico feliz hoje é Natal.
Rodolfo Andrade - Petrópolis/RJ
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Natal
Junta os minino e as mulhé
e anda a aprontá o presépio.
Vai minha filha, procura o minino Jesus.
Vixe mainha, como ele tá velho!
Num fala isso minina!
Corre a colhê a fulô do urucum
e o canto do anum
Cata as pedrinhas do corgo e
o som do vento nas árvore
Prepara o pão e sua trança,
a forma do bolo e a blusa branca,
o biscoito avoador e a fita pro cabelo,
aproveita o ensejo e, com muito jeito,
enfeita o coração da vizinhança
Faz o cartão com a cartolina vermelha
e a mensagem faz mesmo, assim, de lápis
Decalca a santa e busca a luz certa na visage
Anda que o tempo corre!
Busca o selo no pote e pega o correio aberto.
Lá se foi a carta de vó Rosa,
o cartão de vó Nenzinha...
E a areia do presépio?
O corante...
E o tom da cor?
O papel madeira lá em cima da cadeira
no meio do corredor
O galho bem do alto da roseira,
a folha seca e a fulô da gameleira
Avia buscá o doce que cumade Fia preparô!
É suspiro, papo de anjo e quindim
E a reza?
Aquela cumprida, desfiada no rosário,
apregoada pelo vigário da Capela do Sem Fim.
A percata é pra janela,
a galinha é pra panela,
o jarro de Dálias é só pra ela
Tira as cadeiras da sala,
leva a mesa pra varanda.
Anda! Que Dona Chica chegô!
E a armação do presépio já tem cor:
Azul anil, amarelo ouro,
prata e purpurina do armarinho de Seu Nô.
Tá um brinco!
Nossa Senhora como tá lindo!
Só falta agora o minino Jesus.
Vixe mainha, que ele tá é velho!
Minina, não fala mais isso do filho de Nosso Sinhô!
Cynara Novaes
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